Ser técnico é entender o jogo e tornar a vitória mais plausível
Pep Guardiola ficou muito incomodado após perder por 4x0
para o Barcelona e escrevi neste espaço que até os gênios tem seus dias de
estúpidos no futebol. Em duas semanas tudo mudou em Manchester.
Quem acompanha Pep minimamente, sabe o quanto o treinador é
obstinado pela vitória e por superar seus desafios, não fosse provavelmente
ainda seria técnico do Barcelona. Ele deve ter visto muitas vezes o tape do
jogo no Camp Nou, rabiscado em seu caderninho as possibilidades de encontrar a
maneira certa para derrotar o adversário.
Em busca de novidade não se contentou em passar um vídeo
motivacional, dizer para ralar o traseiro no chão, comer grama ou usar os
familiares chorando – isso por mais patético que possa parecer, muitas vezes
funciona. Ele mudou completamente a
maneira do time jogar. Primeiro começou com Agüero de centroavante, De Bruyne
jogou aberto pelo lado esquerdo no 4-1-4-1. Segundo, foi mais reativo, teve
menos posse de bola (40% x 60%), roubou a bola no ataque, asfixiou a defesa do
Barça com muita gente pressionando. Deixou de lado as preferencias dele,
adaptou-se ao jogo, entendeu a superioridade técnica do rival e fez com que o
trio MSN (Messi, Suárez e Neymar) participasse o mínimo do jogo. Venceu.
Técnico bom é aquele que entende a necessidade de cada jogo,
que é capaz de encontrar alternativas, mudar a maneira de a equipe jogar para
fazê-la jogar bem e vencer. Guardiola é isso, estuda e traz novidades as
equipes, nem sempre consegue o resultado, mas quase sempre joga bem.
Marcelo Oliveira é, claramente, copeiro. Chega a sua quinta
final de Copa do Brasil em seis anos, venceu a do ano passado e ainda dois
Campeonato Brasileiros. Mas não diria que é um dos melhores técnicos
brasileiros e não gostaria de tê-lo no meu time. Não o acho má pessoa, pelo
contrário, até acredito que isso seja o diferencial dele, a maioria dos
jogadores gosta dele, consegue pilhar o elenco em jogos grandes. Porém não
encontra alternativas, não mostra evoluções táticas ou técnicas.
Ano passado virou o ano com o título da Copa do Brasil e a
missão de fazer o time trabalharem melhorar a bola e jogar melhor. Não
consegui, mostrou pouco repertório e foi parar no Galo. Lá trabalha com um
elenco formidável, Robinho e Pratto colocaram o Atlético na final da Copa do
Brasil, mas não encontra alternativas para compactar mais a equipe e faze-la
tomar menos gols.
Já acompanhei alguns treinos do Marcelo Oliveira, era algo
bem simples com um coletivo no final em que aparecia para dar instruções. Pedia
para o time tocar mais a bola, mas não explicava exatamente como, nem passava
exercício deste tipo, os treinos de Luxemburgo eram parecidos. Por nunca mudar
a equipe não fechava os treinos, não precisava, adivinhar a escalação do
Palmeiras era muito fácil, hoje é um pouco mais difícil porque o elenco do Galo
tem “brigas” maiores por posição.
Isso tudo mostra que nem sempre o técnico que vence é o
melhor, muitas vezes ele tá no lugar certo com o time certo. Outras vezes ele faz o time ser o certo. Esta
é a diferença.
Matéria publicada no jornal O Atibaiense em 05/11/2016
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