Todos são Leicester

De tudo o que já aconteceu neste século XXI do Neo-futebol – criticado por muitos – o Leicester pode ser a melhor história de todas. Não a mais importante, divertida, demostração de bom futebol, de grandes estrelas ou de revolução na ideia de jogo. 


Longe de ser um Dream Team, de um clube famoso, rico, conhecido no mundo todo com torcedores de todas as partes do planeta e mexendo com corações de todos. Bem, está última parte mudou com está atual temporada.

Desde que Ranieri tirou o time da lama na última colocação da Premier League passada e impulsionou o time para a liderança, com sete pontos na frente do Tottenham a cinco rodadas do fim, a relação de torcida para os Foxes mudou bastante.

Se a está altura do ano passado poucos conheciam a time, os feitos do mesmo elenco, que quase caiu, mexeram com os milhares de loucos por futebol de todo o mundo que são cada dia mais Leicester desde criancinha.

Não chega a ser a torcida de um incha – como são chamados os torcedores na Argentina-, nem "modinha", mas a cada gol de Vardy, drible de Mahrez, desarme de Kanté, defesa de Schmeichel a vontade de ver o time vencer aumenta.

Gary Lineker sempre foi incha (mesmo) do clube por onde chegou a jogar. E escreveu ao The Guardian:“nunca desejei tanto uma coisa no esporte como este título do Leicester” (texto na integra no final). Não é exatamente a mesma sensação de todos, os times de cada um ainda veem primeiro, mas é parecido.

Mesmo sem ser exemplo de jogo bonito é exemplo de coletividade, consciência de suas qualidades e eficiência. Com Claudio Raniere não inventa, faz o simples e acredita nisto.

Nem todos os jogos do Leicester são bonitos de se ver, às vezes a bola fica de um lado a outro, com chutões, rebatidas, faltas e pouco “futebol arte". A zagueirada não saindo jogando – nem Schmeichel – ligação direta, uma atrás da outra, para Jamie Vardy ganhar a primeira bola, ou segunda.

Caso ganhe a inédita Premier League, os ingleses, pioneiros do futebol e da crítica dele também vão dizer: “campeonato nivelado por baixo”. Como é dito no Brasil desde 1985 com o título do Coritiba sobre o Bangu. É uma vontade de tentar explicar, mas não é a verdade.


Porém isso tudo pouco importa na hora de torcer, a superação, trajetória inacreditável, o técnico, vontade de Vardy ao dominar uma bola e ir em direção ao gol, o coração da equipe. Tudo isso, e a raridade do fato, tornam a história sensacional, um conto de fadas exótico, como nunca antes visto na história do futebol. Heróis improváveis, jogadas simples, alguns pernas de pau e (quem sabe?) um final feliz. Roteiro de filme esportivo de Sessão da Tarde.

Não há como não torcer para eles, só se você torce para os Spurs e mesmo assim, acho que preferem o Leicester vencendo-os do que qualquer outro.


Confira o relato de Lineker completo aqui
Eu sou Gary Lineker. Disputei duas copas do mundo. Sou o maior artilheiro inglês em mundiais. Joguei e levantei troféu no Barcelona, mas eu nunca quis nada no esporte em toda a minha vida como quero que este time de Claudio Ranieri ganhe a Premier League.
Uma coisa extraordinária está acontecendo no mundo do futebol. Algo que desafia a lógica. Algo verdadeiramente mágico. Quase me sufoca de emoção, porque está acontecendo com meu time. O time para qual torço desde sempre.
Chorei todo o caminho de volta para casa quando tinha 8 anos e vi ao lado de meu pai e de meu avô o Leicester perder a final da Copa da Inglaterra de 1969. Fui campeão da segundona nos 8 anos que joguei no Leicester. Depois, com amigos e torcedores, eu até ajudei a salvar o clube da falência. Mas nada, nada se compara a isso. Essas coisas não acontecem com clubes como o meu.
Após a vitória contra o Newcastle com direito a gol de bicicleta, o Leicester está no topo da Premier League, com 5 pontos de vantagem. Não estamos em setembro, estamos em março e faltam só 8 jogos para o fim.
E este, com uma ou outra contratação, é o mesmo time que há um ano estava em último lugar, condenado ao rebaixamento. Milagrosamente nos salvamos da degola e ficamos tristes com saída do técnico Nigel Pearson. Na época achei Claudio Ranieri uma escolha sem inspiração. O ex-técnico da Grécia perdeu até para as Ilhas Faroe. Admito que critiquei a escolha publicamente. Ah, como eu estava errado. Maravilhosamente errado.
As casas de aposta concordavam comigo. O Leicester era favorito para ser rebaixado nessa temporada. Quem poderia imaginar o que iria suceder? O que estamos testemunhando, se o Leicester realmente for campeão, é talvez o triunfo mais improvável da história do esporte. Um grupo de indivíduos que há um ano não conseguia vencer um jogo de futebol de nenhuma forma virou uma força invencível. Um time com espírito e união que esse jogo raras vezes viu.
Bem, vamos para as verdadeiras razões. Os jogadores que tiveram dificuldades em sua primeira temporada na primeira divisão começaram a se encontrar, incentivados, é claro, pelo clímax impressionante para essa campanha. Jamie Vardy começou a marcar os gols que a velocidade incrível de seu pé e esforço monstruoso prometiam que ele poderia.
Riyad Mahrez, ágil e esbelto, prepara suas mágicas constantemente. A adição do onipresente N’Golo Kanté ao lado de um certeiro Danny Drinkwater forneceu uma dupla de meio-campo inigualável para qualquer um na Premier League nesta temporada. Em outro lugar há uma energia estranha para o time fornecida pelos talentos de Marc Albrighton, Shinji Okazaki e Jeffrey Schlupp.
Kasper Schmeichel tem sido excepcional no gol, além de possuir óbvias qualidades de liderança que ele pode ter herdado. Então, e este é o aspecto mais surpreendente deste time, há um conjunto de defensores eficientes que se juntaram para formar uma zaga e que estão unidos com uma mentalidade de “tu não passarás” que parecia além do alcance deles no início da temporada. Nessa linha de quatro, porém, há experiência e cabeças calmas.
Tudo orquestrado pelo engenhoso, sagaz e inspirado Claudio Ranieri. É difícil entender o incompreensível. Alguns falam de superstições. A realidade é que temos jogadores que descobriram a forma na hora certa. Encorajados cada vez mais pelo sucesso inesperado. Um time perfeitamente organizado e competitivo. Não almeja ter a posse de bola, apenas se aproveita da perda da posse dos rivais, em contra-ataques elétricos e brilhantes. Um time excepcional. Desta vez, se vão até o fim, será que este sonho surreal vai acabar? Voltaremos a miserável realidade? Espero que não. O Leicester está a beira de conquistar a imortalidade esportiva. Mesmo com toda pressão, não demonstra medo.
É absolutamente prazeroso observar a alegria que os meus três meninos torcedores do Leicester estão sentindo. Até o meu mais velho, George, um fã de toda vida do Manchester United (ele sempre foi contra), está entusiasmado com a campanha dos “Foxes”.
Quanto a meu pai, bem, ele recentemente twittou: “Eu esperei mais de 70 anos por isso. Brilhante”. Eu também tenho a sensação de que os fãs de futebol de todo o mundo se sentem da mesma maneira. A pressão vai aumentar a cada semana que passa. Com a expectativa vem o perigo. Eles não têm, no entanto, mostrado nenhum medo, até agora. Nenhum sinal de hesitação sob a magnitude do que eles podem alcançar. Eles estão à beira da imortalidade desportiva.
Não tenha medo, meu time. Conquiste.
Eu sou Gary Lineker. Venci a FA Cup com o Tottenham. Em 1986 me tornei o único inglês a ganhar a chuteira de ouro em uma copa do mundo.
Mas eu nunca quis nada tanto em toda a minha vida no esporte como quero que este Leicester seja campeão.

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