Não podemos estragar o Poderoso chefão

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No futebol um mais um não é igual a dois. Treinamento, estudo, preparação são essenciais para que o atleta melhore. Ao passo de que um jogador, bom pode crescer e se tornar ótimo, como um médio pode ficar bom e por aí vai.

Só que há alguns que estão fora disso tudo, estão em outro plano, como se fossem os donos do jogo desde quando nasceram. Estão a frente de seu tempo, entendem o jogo com mais facilidade e tem a bola quase como parte do corpo. São fora da regra e capazes de fazer coisas inimagináveis com a bola e adversários. Esses são os gênios da bola, como Pelé e Neymar.

Na Copa do Mundo de 1970, um lance de não gol, foi tão surpreendente que está gravado na memória de muita gente. O lance em que o camisa 10 engana o goleiro uruguaio só com o movimento do corpo, sem tocar na bola, e por pouco não faz um golaço após dar a volta sobre o guarda redes. Algo tão extraordinário como o lance de Neymar no último domingo. Um gol que encanta pelo algo diferente, nem tanto pela dificuldade, mais pelo fato novo. A jogada que faz você soltar um palavrão na hora que vê, não porque não gostou do lance ou esta xingando o jogador, mas porque te pega de surpresa e de tão bonita provoca esse tipo de reação.

O golaço do jogador do Barcelona foi o vídeo mais visto nos dias seguintes a ele na imprensa esportiva. Número um nos sites, nos programas de TV, visto por todos a todo momento. Já vi tanto o gol que até me cansei dele, como acho que outras pessoas também cansaram. O fato extraordinário de Neymar vai ficando banal, o golaço vai virando apenas mais um gol. 

O que fizeram com o gol de Neymar é feito com todas as outras coisas, tornam os grandes feitos da semana, cansativos na cabeça, saturados no momento em que acontece e depois esquecidos com o tempo. Coisas geniais acabam ficando perdidas no meio do mar de informações. Algo como esse gol, uma das coisas mais maravilhosas do jogo, ficavam registradas na memória, antes estimulavam a imaginação nos tempos de rádio até que fosse visto o lance dias depois. Os lances de Pelé eram assim. Hoje acabam matando a jogada do gênio.

Essa mesma imprensa que faz isso, faz uma revista para comemorar um título 99% conquistado pelo Timão. A edição da Placar chegou as bancas na segunda-feira (9) uma revista-pôster do Corinthians 99% campeão, isso acabou provocando o pedido de demissão do editor-chefe Celso Unzelte da revista. É o futebol virando entretenimento, coisa que ele não é, não deve ser tratado desta maneira.

Quando está passando uma reprise de Poderoso chefão na TV, por mais que já tenha assistido umas 20 vezes, você acaba parando para ver uma cena ou outra. Precisamos mais disso no futebol, só que se for usado da maneira que vem sendo usado, podemos estragar um “Poderoso chefão” e fazermos com que ele vire a coisa chata, repetitiva, por melhor que seja. Fizeram isso com o gol de Coppola, quer dizer, Neymar.

Matéria publicada no jornal O Atibaiense em 14/11/2015

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